Esporte

Sem Silvio Lancelotti, o Brasil fica mais ignorante. Morreu um mestre, um professor de jornalismo, culinária e literatura – Prisma

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São Paulo, Brasil


“Cosme, você chama o Silvio Luiz.


E eu faço um macarrão para vocês.”


O ano era 2020, até me assustei com tanta generosidade. Nunca fomos próximos, apenas havia a minha admiração distante pelo conhecimento, matérias na Veja, na Folha, no Estado.


E, lógico, as primeiras transmissões ao vivo do Campeonato Italiano, na tevê aberta, na Bandeirantes.


Me chamava a atenção, como estudante de jornalismo, a paciência para ensinar didaticamente as estratégias da grande Juventus, do impressionante Milan, da competitiva Inter de Milão. A fluência como detalhava a mecânica do futebol europeu. 


Isso em um tempo no qual não havia Internet. 


Mas seu rede de amigos e seu interesse jornalístico se impunham. 


E Silvio Eduardo Lancelotti cumpria sua missão, espalhar conhecimento, mais do que um mero jornalista, comentarista. Ele assumia a postura de um excelente professor.


Mestre.


Seja nos esportes como um todo, principalmente futebol europeu, na culinária, na literatura, o arquiteto conseguiu se desdobrar, levar conhecimento nas áreas que o interessava.


Só que assume um blog sabe o que é trabalhar todos os dias. E era admirável a sua dedicação nos últimos anos de sua vida ao seu, aqui no R7, que batizou, ironicamente, de Copa e Cozinha. E que levava seu rosto na caricatura do excepcional Ziraldo.


Em um portal tão importante, a briga por espaço na home, na ‘primeira página’ é uma tarefa árdua. E que depende de várias circunstâncias. Entre elas, a vontade de quem escreve de ser lido. De contextualizar, explicar, dar a sua versão do fato, da notícia. 


E Silvio era incansável em todos os sentidos.


Aos 78 anos, ele mostrava gana de um jovem jornalista querendo ‘espaço’ para suas matérias. Mesmo sem precisar, porque seu nome já era referência. 


Foram mais de 50 anos de sua vida dedicados ao jornalismo. Trabalhando em veículos de comunicação fundamentais no país. 


Mesmo duas próteses, uma no quadril e outra na perna esquerda, resultado de um grave acidente automobilístico que sofreu em 2016, com grande dificuldade de locomoção, ele não quis parar de trabalhar.


E nem de encontrar e cozinhar para os amigos.


Nesta entrevista exclusiva à editora L&PM, em 2009, um pouco de sua trajetória impressionante.


“Eu me formei em Arquitetura. Mas, virei jornalista, em 1968, fascinado pelo projeto de uma publicação inusitada no Brasil, sequer sabia o seu título – só depois de meses de treinamento eu descobri que se chamaria Veja, a primeira semanal de informação do País.


“Comecei, na Veja, ainda na fase de números zeros, antes do seu lançamento, como sub-editor de “Internacional”, Cuidava das áreas de Estados Unidos, Guerra do Vietnam e África. Nos zeros, escrevi matérias sobre os assassinatos de Martin Luther King e de Bobby Kennedy. Depois, com a Veja nas bancas, sobre a primeira eleição de Richard Nixon à presidência dos EUA.


“Pela revista, também cobri golpes de estado na América Latina, o conflito de Biafra – e, insolitamente, a Copa de 70, que a seleção do Brasil venceu, no México. Então, em 72, ganhei uma bolsa para estudar na Universidade de Stanford, Califórnia, e cobri a re-eleição de Nixon. Quando voltei ao Brasil, em 73, me tornei editor de “Artes & Espetáculos” e, paralelamente, virei diretor dos programas “Informação:” e “Série Documento”, premiadíssimos, na Rede Bandeirantes. Eu trabalhava como um danado – mas, adorava o que fazia. Daí, atravessei anos de combate à ditadura militar e à censura.


“E, depois da morte de Vlado Herzog, quando Mino Carta, que dirigia Veja, saiu da revista, retornei à Arquitetura. Como dispunha de tempo, aceitei um convite de Luís Carta, irmão do Mino, para dirigir a revista Vogue. E, em 77, quando o Mino inventou a revista Istoé, imediatamente aderi à sua causa.


“Na Istoé eu passei os melhores anos da minha vida, uma batalha inesquecível pela liberdade. Daí, a bola de neve me conduziu à Folha de S. Paulo etcetera tal.


“História longa…”


Silvio Lancelotti deixa uma lacuna no jornalismo deste país.


Na alma do R7.


E, em mim, o gosto amargo desperdício.


Deveria ter chamado o Silvio para o ‘macarrão’.


Descanse em paz.


Você está na home, na primeira página de todos os portais.


Privilégio de pouquíssimos jornalistas desse país.


É o justo reconhecimento que sua missão foi cumprida…

Fonte: Acesse Aqui o Link da Matéria Original

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