Ucrânia diz que não espera avanços em negociações com Rússia na Turquia – 28/03/2022 – Mundo

Ucrânia e Rússia se preparam para as primeiras negociações de paz a serem feitas de forma presencial em mais de duas semanas, que devem ocorrer a partir desta terça-feira (29) na Turquia, mas não há expectativas de um grande avanço, disseram autoridades ucranianas.

O fato de a próxima rodada de negociações ocorrer presencialmente, no entanto, pela primeira vez desde uma reunião tensa entre ministros das Relações Exteriores dos dois países em 10 de março, sinaliza uma mudança de tom, à medida que a Rússia tem encontrado dificuldade em avançar e ganhar território.

Quando os dois lados se viram pela última vez, a Ucrânia acusou o chanceler russo, Sergei Lavrov, de ignorar os apelos do país para discutir um cessar-fogo, e Lavrov afirmou que a interrupção dos combates nem estava na agenda. Desde então, eles se reuniram apenas por videochamada.

Tanto Moscou quanto Kiev afirmam que há progressos quanto às propostas de a Ucrânia aceitar algum tipo de status formal neutro, sem aderir à Otan, por exemplo, mas não parecem próximos de chegar a um acordo quanto às demandas territoriais da Rússia, incluindo a Crimeia, anexada pelos russos em 2014, e territórios a leste, na região do Donbass, que Moscou exige que Kiev ceda aos separatistas.

“Não acho que haverá qualquer avanço nas principais questões”, disse o assessor do Ministério do Interior ucraniano, Vadim Denisenko, nesta segunda-feira (28).

O presidente ucraniano Volodimir Zelenski tem passado mensagens ambíguas quanto a isso. Em discurso em vídeo endereçado à população ucraniana divulgado na noite de domingo, afirmou que vai priorizar a integridade territorial do país nas negociações em Istambul.

Mas em comentários feitos a jornalistas russos no início do dia, adotou um tom diferente, dizendo que a Ucrânia estava disposta a discutir o status das regiões separatistas, repetindo que qualquer acordo deve ser submetido a um referendo. “Garantias de segurança e neutralidade, status não-nuclear de nosso Estado. Estamos prontos para isso”, acrescentou, falando em russo.

Uma autoridade turca de alto escalão afirmou que as negociações em Istambul começariam nesta segunda-feira (28), mas o Kremlin afirmou depois que os diálogos devem começar até terça-feira, acrescentando que é importante que elas ocorram pessoalmente.

​Desde o início da guerra, países ocidentais afirmam que o verdadeiro objetivo da Rússia era derrubar rapidamente o governo de Kiev, o que Moscou não conseguiu diante da resistência ucraniana. A Rússia mantém a pressão no sudeste ucraniano, próximo às áreas separatistas, com o cerco à cidade portuária de Mariupol, onde ainda há dezenas de milhares de civis que não conseguem sair.

O prefeito da cidade, Vadim Boichenko, afirmou que 160 mil civis estão presos no local, sem aquecimento e energia. Vinte e seis ônibus aguardam para retirá-los, mas as forças russas não concordaram em dar passagem segura, disse. “A situação na cidade continua difícil. As pessoas estão além da linha de catástrofe humanitária”, disse Boichenko pela TV. “Precisamos evacuar completamente Mariupol.”

Após o presidente americano Joe Biden dizer, em discurso na Polônia, que Putin “não pode permanecer no poder”, autoridades americanas de alto escalão passaram o domingo tentando esclarecer que os Estados Unidos não pretendem mudar o regime na Rússia. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou que Biden quis dizer que Putin não poderia ser “autorizado a guerrear” contra a Ucrânia ou qualquer outro país. O Kremlin afirmou nesta segunda que os comentários são motivo de preocupação.

Após mais de quatro semanas de conflito, a Rússia não conseguiu tomar nenhuma grande cidade ucraniana e sinalizou na sexta-feira que estava reduzindo suas ambições para se concentrar em proteger a região do Donbass. Um líder da autoproclamada República Popular de Luhansk disse no domingo que a região deverá em breve realizar um referendo sobre a adesão à Rússia, assim como aconteceu na Crimeia depois que os russos tomaram a península em 2014. A Crimeia votou em peso para romper com a Ucrânia e se juntar à Rússia —uma votação que grande parte do mundo se recusou a reconhecer.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, no entanto, descartou a possibilidade de qualquer referendo no leste da Ucrânia. “Todos os referendos falsos nos territórios temporariamente ocupados são nulos e sem validade legal”, disse Oleg Nikolenko.

A invasão russa devastou várias cidades ucranianas, causou uma grande crise humanitária e deslocou cerca de 10 milhões de pessoas, quase um quarto da população da Ucrânia.

A ONU confirmou 1.119 mortes de civis e 1.790 feridos em toda a Ucrânia, mas diz que o número real provavelmente será maior. A Ucrânia disse no domingo que 139 crianças foram mortas e mais de 205 ficaram feridas até agora no conflito.