Treinar com um Rocky virtual tem um potencial demolidor – 08/04/2022 – Mercado

É sexta-feira à noite e, contrariando as probabilidades, estou na academia de ginástica. Só eu, alguns sacos de pancada, um ringue de boxe –e Sylvester Stallone. Ele me chama. Estou perdido.

Estou mesmo? Olho para baixo. Estou trincado. Um belo espécime, prestes a me tornar um campeão. Neste mundo da realidade virtual, Stallone está lá para me manter na linha.

Na minha vida real, há problemas. Uma batida na porta significa que meu jantar chegou. Quando tiro o headset, me afasto do meu mentor, envergonhado, momentaneamente desorientado e, quando olho para baixo, possuo um físico bem diferente.

Especialistas dizem que entrar em forma tem a ver com criar bons hábitos. Mas também tem a ver com combater o tédio. A partir do momento em que eu piso numa esteira, tudo em que consigo pensar é quanto tempo vou levar para terminar. Grande parte do sucesso do Peloton foi sua capacidade de trazer para casa a vibração da aula ao vivo, com a motivação e cobrança de resultados. A realidade virtual pode realmente levar isso para o próximo nível?

O game que estou jogando, Creed: Rise to Glory, se baseia na franquia Rocky e está pegando firme. Exceto por alguns comandos de botão, não há controles para aprender além de movimentar meu corpo e as mãos e balançar contra adversários cada vez mais fortes. Depois de algumas semanas, posso sentir a diferença em meus braços, ombros e barriga. Meu Apple Watch marcou uma sessão de boxe de 30 minutos em que meu batimento cardíaco médio foi de aproximadamente 150 bpm.

Dados mais substanciais foram reunidos pelo departamento de cinesiologia da Universidade Estadual de San Francisco, que comparou meia hora de boxe em RV com 30 minutos de tênis. A pesquisa sugeriu que Thrill of the Fight, outro game de boxe, dá um exercício tão bom quanto estar numa máquina de remo durante o mesmo tempo.

A equipe, que disse que não recebeu financiamento de qualquer companhia tecnológica para o trabalho, colocou jogadores em um laboratório para medir a eficácia dos games de RV como ferramenta de fitness, registrando o consumo de oxigênio e o ritmo cardíaco. As pessoas não sentiam que estavam se exercitando realmente forte, diz Marialice Kern, presidente do departamento e parte do Instituto RV de Saúde e Exercício, um grupo de pesquisa independente. “Mas seu nível de consumo de oxigênio e gasto de energia as situava em um nível muito mais alto do que estavam percebendo”, explicou ela.

Kern admite que as comparações com o exercício “real” são imprecisas. Há muitas diferenças entre exercício no mundo real e na RV, mais obviamente qualquer resistência, o que faz dele um método menos eficaz de treinamento de força: no meu game não há feedback ao acertar o rosto das pessoas. (Felizmente, funciona nos dois sentidos.) Você também tem movimento limitado, dependendo de seu espaço físico.

A equipe do instituto também está pilotando seu próprio jogo, chamado Pacebreaker, para adaptar o ato de jogar à capacidade física, como um treinador pessoal. A criação de boas experiências de condicionamento físico, entretanto, precisa acompanhar o desenvolvimento de hardware. Meu conjunto de visor Oculus Quest, produzido pela Meta, controladora do Facebook, é a pedra de toque da estratégia de Mark Zuckerberg para criar um “metaverso” onde milhões de pessoas podem existir e colaborar digitalmente. Mas alguns rounds de boxe me deixam encharcado de suor e soltando vapor, como óculos de sol sobre uma máscara da Covid.

Mesmo em sua forma atual, porém, a tecnologia me levou a me exercitar todas as noites durante semanas. E os que querem ver o metaverso se tornar um enorme sucesso seriam inteligentes em focar não só os benefícios no mundo virtual, mas como a RV pode ser usada para nos sentirmos melhor no mundo real também.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves