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Se as mulheres têm mérito, a meritocracia chinesa tem um problemão – 07/04/2022 – Tatiana Prazeres

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Todo entusiasta do modelo político chinês exalta a meritocracia como uma de suas grandes virtudes.

De fato, a ideia de competição e recompensa pelo mérito são conceitos altamente arraigados na sociedade chinesa e, principalmente, no sistema político vigente.

Governadores de províncias, por exemplo, travam concorrência acirrada. Disputam investimentos, projetos vistosos, além do cumprimento de metas como crescimento do PIB e redução de emissões de CO2.

Na ausência de eleições para determinar o futuro político de um governador, teoricamente é o seu desempenho que determina se passará a chefiar uma província maior, um ministério importante, uma grande estatal —ou se ficará pelo caminho.

A legitimidade do modelo político chinês é com frequência associada à capacidade de o governo entregar resultados. Sem o voto popular, a tal legitimidade pelo desempenho relaciona-se à seleção e à promoção dos quadros do Estado-partido com base em mérito.

Enquanto a ideia de meritocracia é desmistificada em muitas partes, as autoridades chinesas se apegam a ela com gosto, porque o conceito está na base da construção política do país. As lideranças se preocupam, no entanto, com dois problemas capazes de corroer a confiança dos indivíduos na lógica do merecimento.

Em primeiro lugar, há a corrupção: se as decisões (e as promoções, em particular) forem contaminadas, a função legitimadora da meritocracia cai por terra. Depois, há o crescimento da desigualdade: se o acesso a oportunidades for desigual, a meritocracia vira argumento de fachada. Não por acaso, esses dois temas são prioritários para Pequim.

Os céticos da meritocracia chinesa ressaltarão que, além desses problemas, as engrenagens da política são movidas a “guanxi” —conexões pessoais, relacionamentos. Destacarão que alguns filhos de personagens históricos do partido ocupam hoje posições importantes.

Dirão que o fenômeno dos chamados pequenos príncipes relativiza o fator do mérito na ascensão política. Mesmo tendo seguido o script para chegar ao topo, o próprio Xi Jinping é filho de um ex-vice premiê da China, Xi Zhongxun, lembrarão os críticos.

A grande ameaça à credibilidade da meritocracia chinesa, no entanto, é capturada em imagens públicas. Naquelas grandes reuniões políticas importantes, apenas com esforço localizam-se mulheres. Elas representam 8% dos 371 membros do Comitê Central do Partido Comunista, indica um levantamento do Congresso americano.

No todo-poderoso Politburo, composto por 25 membros, apenas seis mulheres já tiveram assento em mais de 70 anos de regime —e três delas eram esposas de líderes. Hoje, há uma mulher no grupo, a vice-premiê Sun Chunlan. No topo da pirâmide de poder na China, o grupo de sete membros do comitê permanente do Politburo, nunca houve uma mulher. Dos 26 ministros na China hoje, todos são homens, aponta o levantamento.

As mulheres chinesas são sub-representadas na política —como é o caso mundo afora, responderá o entusiasta do modelo de Pequim. Mas a questão é que democracias não pretendem se justificar com base no mérito.

A baixa presença das mulheres em cargos de comando na China decorre sobretudo das escolhas do próprio partido. O Partido Comunista Chinês conta com 95 milhões de pessoas, e elas respondem por cerca de 30% de seus membros. Não deveriam faltar mulheres.

É difícil conciliar a ideia de seleção meritocrática com o fato de que, quanto mais importante e seleto o foro político, menos mulheres há nele. Se as mulheres têm mérito, a meritocracia chinesa tem um problemão.

Neste ano em que Xi Jinping busca assegurar seu terceiro mandato, haverá mudanças em posições-chave do país. Resta saber se, nas imagens do novo Politburo, será mais fácil encontrar uma mulher.


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Fonte: Acesse Aqui o Link da Matéria Original

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