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Por que atores cis não devem mais aceitar personagens trans?

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Vários artistas cisgênero ganharam prêmios importantes com personagens trans. Para Jules* Elting, essa situação não pode mais aceita na indústria

O ator Eddie Redmayne ganhou um Oscar por seu papel em A Garota Dinamarquesa (2015). Hilary Swank também levou uma estatueta pelo filme Meninos Não Choram (1999), assim como Jared Leto por Clube de Compras Dallas (2013). Felicity Huffman não venceu, mas foi indicada por seu trabalho em Transamérica (2005). Em comum, todos são atores cisgêneros interpretando personagens trans. Uma situação que não pode mais ser encarada como normal.

Redmayne, em novembro do ano passado, já deu a letra: se o convite para viver Lili Elbe (1882-1931) surgisse hoje, ele não aceitaria. “Eu fiz o filme com a melhor das intenções, mas foi um erro. Muitas pessoas são excluídas na hora da escalação, e isso precisa ser corrigido, ou continuaremos tendo essa discussão durante um bom tempo”, resumiu ele ao jornal The Sunday Times.

Jules* Elting, artista não-binárie que conquistou a crítica com sua performance em Carro Rei, concorda. “Em um mundo ideal, todo ator poderia fazer qualquer personagem, porque é isso que a gente aprende, que a arte é uma questão de empatia, de poder entrar em outras vidas”, aponta. O problema é que o mundo em que vivemos atualmente está bem longe do ideal.

“Atualmente, nem todo mundo pode participar de todos os lugares. Tem gente que não tem visibilidade, não tem todos os seus direitos assegurados, não pode nem exercer qualquer profissão. Nesta sociedade que a gente vive agora, acho muito problemático ter uma pessoa cis atuando como um personagem trans”, discursa elu em conversa com a Tangerina.

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Jules* Elting é artista não-binárie e está no premiado filme Carro Rei

Para Jules* (o asterisco faz parte do nome, como um acento silencioso), personagens trans já são tão raros em grandes produções que, quando um ator cisgênero aceita o papel, tira efetivamente a oportunidade de alguém que poderia engatar uma carreira. “E a questão não é que eles não podem fazer o papel bem, porque eles podem atuar maravilhosamente. Isso precisa ficar claro”, ressalta.

Qual é a questão, então? “Já é tão difícil para nós entrarmos na indústria, ganharmos um espaço, sobrevivermos, sermos vistos. Quando um personagem tem a ver conosco, quando ele vive as coisas pelas quais nós somos discriminados, quando o que nós vivemos pode finalmente ser uma qualidade, um diferencial, vão chamar outra pessoa? Não, aí é muita injustiça, porque a pessoa hétero e cisgênero já tem milhões de outros personagens para fazer”, critica.

Jules* Elting indica ainda outro problema na escalação de um ator cisgênero para dar vida a um personagem trans. “Na hora de divulgar o trabalho, todo mundo fala: ‘Nossa, que coragem!’, ‘Como conseguiu?’. E tem tanta transfobia dentro disso, sabe? Quando um artista hétero interpreta um gay, é só mais um papel. Fazem o filme, dão entrevistas falando que foi um desafio e já era.”

“Já uma pessoa que faz parte da comunidade LGBTQIA+ usa as entrevistas para dar visibilidade à causa, para falar da própria vida, dos seus dramas pessoas, das dificuldades que já viveu. Não dá para subestimar como isso é importante, ter essa representatividade, esse holofote. Sex Education tem um personagem não-binárie [Cal, vivide por Dua Saleh], e essa pessoa deu entrevistas muito inspiradoras”, finaliza.

Fonte: Acesse Aqui o Link da Matéria Original

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