Esporte

Memórias da Copa 1: uma aula de nobreza e educação no Maracanã – Prisma

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Não parece. Mas foi ontem, mesmo, tão acesas permanecem as cenas do primeiro padecimento e da primeira grande lição de vida que o Futebol me propiciou. Aconteceu na Copa de 1950, cá no Brasil, quando meus pais, a Dona Helena e o Don Eduardo, me levaram a presenciar quatro jogos da seleção que, o País todo acreditava, o auxiliaria a se transformar numa potência universal. Bem relembro do incômodo que foi me sentar nas duras gerais de cimento do Pacaembu, pertinho da Estátua do David, às margens de uma das bandeirinhas de escanteio, e aturar o péssimo humor do “Babbo” diante do empate de 2 X 2 com a Suíça, o escrete pátrio sem os seus dois ídolos, Zizinho e Jair, a quem o pedante treinador Flávio Costa decidira poupar na sua única peleja na cidade de São Paulo.



Data daquele jogo: 28 de Junho, eu ainda aos 45 dias de meus seis aninhos de idade. Helena e Edu, de todo modo, imaginavam me antecipar um presentaço inolvidável. E pelo trem noturno ao Rio de Janeiro nós três rumamos, já que na Cidade Maravilhosa a “Mamma” dispunha de parentes, Tia Stella e Tio Américo, moradores de um apartamento enorme, e num edifício idem, junto ao Morro da Viúva, na Praia do Flamengo. Funcionária do governo e diretora do Museu do Teatro Municipal, a Tia Stella providenciou ingressos para três jogos no Maracanã. Aqueles decisivos. Do dia 9 de Julho, por exemplo, a mente de hoje resgata a minha estranheza por ser a Suécia a seleção de amarelo, uma cor que eu considerava propriedade do Brasil, que atuou todo de branco. E me recordo da rouquidão do “Babbo”, que enfim se esgoelou com os cruéis 7 X 1 de Zizinho, de Jair e Cia. bela.



Confesso que uma razoável inclinação prematura pelos confortos domésticos teria me compelido a ficar no apartamento e a ouvir os cotejos num aparelho imenso de rádio que dominava o escritório do Tio Américo. No dia 13, contudo, os meus pais de novo me arrastaram ao Maracanã. E, afortunadamente, para reminiscências extraordinárias. Nem tanto pelos 6 X 1 que o Brasil pespegou na Espanha mas porque, no meu cálculo de molecote, mais de um milhão de espectadores se esbaldaram na cantoria de “As Touradas de Madrid”, a obra-prima de João de Barro e Alberto Ribeiro. Detalhe: cerca de meio-século depois, já profissional da Mídia, eu produziria um programa de TV da “Série Documento” da Rede Band com um João de Barro já quase octogenário. Que riu muito quando lhe contei.



Faltava só um prélio para o título com que o Brasil inteiro sonhava. E lá fui eu, com o Edu e a Helena, no dia 16 de Julho, ao templo monumental do Maracanã. Eu relembro que ganhei um chaveiro/medalha com a efígie celebrativa do estádio. E relembro que, por chegarmos bem cedinho, eu pude me instalar numa cadeira só minha de metal azul, ao invés de me acomodar no colo de algum dos pais. E eu relembro que pude constatar que, ao contrário da partida contra a Suécia, já não mais existiam alguns andaimes de madeira debaixo de parte da marquise do estádio. Sobre o jogo, bem, lastimo, relembro praticamente nada.



Quer dizer, na verdade, se eternizaram, sim, as tais cenas. E não parece que foi ontem, mesmo. Tais cenas retornam hoje, e voltarão, sempre, nas minhas memórias: o elenco do Uruguai, que havia ganho por 2 X 1 e o mero empate favorecia o Brasil, o time campeão a atravessar o campo do Maracanã com a sua bandeira – enquanto o Don Edu, devastado, chorava, e Dona Helena, em pé, aplaudia. Não resisti à pergunta que, subitamente, me incomodou. Oras, por quê as lágrimas do “Babbo” italianado e as palmas da “Mamma” de família quatrocentona de Itu? Numa frase, dela eu recebi a aula magna que marcou minha formação: “Também estou triste, como seu pai. Mas, prá mim, o Futebol é só um esporte. E cabe a um esportista, sempre, com nobreza e educação, cumprimentar de quem perdeu.”



PS: Este texto representa o esboço de um capítulo de uma tentativa de eu escrever a minha, talvez, autobiografia; no mínimo, uma  seleta de causos que vivi e/ou testemunhei. De hoje até esgotar o tema “Copa do Mundo”, publicarei, aqui no meu espaço do R7, textos sobre as outras disputas de 1954 até 2018. Algumas que inclusive cobri in loco, de 1970, de 1990 e de 1994.



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Fonte: Acesse Aqui o Link da Matéria Original

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