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China move sua máquina para se adaptar à crise climática – 29/07/2022 – Tatiana Prazeres

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No verão passado, a cidade de Zhengzhou, no sul da China, enfrentou chuvas torrenciais. Em três dias, choveu o volume esperado para o ano inteiro. Dentre as vítimas das enchentes estavam 14 pessoas que morreram dentro de um vagão do metrô da cidade, capital da província de Henan. As notícias chocaram o país.

Quando se trata de China e mudanças climáticas, o destaque costuma estar no fato de o país ser o maior emissor global de CO2. Mas Pequim também ocupa o topo de outro ranking: está entre as nações mais vulneráveis do mundo aos impactos dessa crise.

Pequim deverá sofrer as maiores perdas econômicas resultantes do aumento dos níveis dos mares e de inundações. Seu PIB e sua população se concentram no litoral, e cerca de 25% da costa é considerada altamente vulnerável, de acordo com as Nações Unidas.

A China sabe que o aquecimento global e eventos climáticos extremos fazem parte de uma realidade inevitável, dado o estado avançado do problema. Investe em redução de emissões, mas reconhece que isso não basta. O país —e as cidades chinesas— precisam estar mais bem preparados para incêndios, enchentes e temperaturas elevadas. O processo de urbanização, como em outros lugares, basicamente ignorou o fator clima.

O assunto ganhou destaque com uma estratégia nacional focada justamente em adaptação às mudanças climáticas, lançada em junho. Até 2035, o país deve, segundo o plano, tornar-se mais resiliente por meio de reformas de infraestrutura e do estabelecimento de sistemas eficazes para prevenir desastres como o do metrô de Zhengzhou.

A máquina chinesa se prepara com convicção. O tratamento é o típico da tecnocracia diante de problemas de grande envergadura: usar engenharia e soluções técnicas para planejar e literalmente construir soluções. Essa é a praia dos chineses. Experimentam a partir de iniciativas-piloto. Definem metas e também dão espaço para que autoridades locais encontrem maneiras de entregar resultados.

A estratégia recém-anunciada inclui, por exemplo, reforçar a capacidade de modificação artificial do tempo para proteger o que consideram como ecossistemas importantes. Fazer chover e parar de chover está nos planos. A esse modo de operar, as autoridades estão agora somando tecnologias de cidades inteligentes, com sensores, big data e inteligência artificial para, entre outras coisas, criar sistemas eficientes de prevenção de desastres.

O conceito de cidade-esponja, por exemplo, ganhou muita visibilidade na imprensa local no último ano. Um projeto-piloto foi lançado em 2015, com o objetivo de, até 2030, viabilizar a absorção e reutilização de pelo menos 70% das águas da chuva. Xangai é uma das 30 cidades que participam da iniciativa. A ideia é permitir que o solo tenha mais tempo e espaço para absorver a água, com o uso, por exemplo, de pavimentação permeável, espaços verdes e reservatórios subterrâneos.

Enquanto o hemisfério Norte, e a Europa em particular, experimentam hoje temperaturas recordes e correm contra o tempo para se adaptar a uma nova realidade, será inevitável olhar para a experiência da China. É certo que o país se tornará uma referência em adaptação climática, mesmo que sua trajetória inclua erros e polêmicas. O mundo pode escolher não se inspirar na experiência chinesa em matéria de infraestrutura resiliente ou cidades inteligentes, mas não será possível ignorá-la.

Não há negacionistas na liderança do país que está entre os mais vulneráveis do mundo a essa emergência. Além dos prejuízos econômicos e humanos significativos, mudanças climáticas trazem consigo risco de insatisfação social e instabilidade política —se acaso Pequim ainda precisasse de mais motivos para agir.


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Fonte: Acesse Aqui o Link da Matéria Original

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