Ballet Eliana Cavalcanti anuncia fim das atividades em Maceió | Alagoas
A fundadora e diretora da primeira escola de balé de Alagoas, Eliana Cavalcanti, anunciou o fim das atividades da tradicional escola de dança clássica em Maceió em novembro. Em uma carta divulgada nesta sexta-feira (6), a bailarina relata sua história e explica o motivo do encerramento das aulas (leia a carta na íntegra ao final do texto).
“Como fundadora e diretora do Ballet Eliana Cavalcanti antecipo minhas desculpas, pois resolvi pôr um fim a uma história que nos enche de orgulho. Pretendia parar daqui a dois anos, quando estaríamos comemorando o seu jubileu de ouro, porém os dois duros golpes que sofri (o desastre causado pela mineradora Braskem, quando perdemos a nossa sede própria e tivemos de nos estabelecer em outro bairro, e a pandemia do coronavírus) fizeram-me refletir sobre a necessidade urgente de diminuir o meu ritmo”, explica ela.
Em 2021 a escola de balé completa 48 anos de existência. Desses, foram 38 anos funcionou no Pinheiro, um dos quatro bairros de Maceió afetados por rachaduras provocadas pela exploração de sal-gema. O imóvel entrou no Mapa de Setorização de Danos elaborado pela Defesa Civil e em 2019 a escola precisou ser realocada.
Em seguida, passou a funcionar em um espaço alugado, no bairro da Gruta e Eliana alega que a mudança de endereço a fez perder alunos por causa da localização. Outro problema enfrentado foi o valor do aluguel.
A bailarina encerra a carta fazendo agradecimentos.
“Sem mais, desde já agradeço a todos os alunos, ex-alunos, pais de alunos, professores da escola, professores e coreógrafos convidados que nos presentearam com suas presenças ao longo desses anos, bem como aos funcionários e ao público tão cativo que esteve sempre nos prestigiando”.
Carta da bailarina Eliana Cavalcanti
Em 1972, comecei a vir de Recife para dar aulas no Colégio SS. Sacramento. No ano seguinte, casei-me, vim morar em Maceió e abri a primeira escola de balé de Alagoas. Aqui já tinham ensinado outras professoras e havia uma única ensinando na AABB, naquele momento. Eu já ensinava balé no Curso de Danças Clássicas Flavia Barros desde os meus 15 anos. Somam-se, portanto, 55 anos de ensino dessa arte magnífica. Egressa da posição de primeira bailarina do Grupo de Ballet do Recife, recebi, por duas vezes, convite (Ballet Stagium de São Paulo e Associação de Ballet do Rio de Janeiro) para ser bailarina profissional. Declinei desses convites e nunca me arrependi, pois, com o passar do tempo, compreendi que a minha vocação maior estava voltada para o ensino.
O Ballet Eliana Cavalcanti completou, neste ano de 2021, 48 anos de uma bela história. Muitos alunos passaram anos e anos estudando conosco. Alguns se tornaram bailarinos profissionais e outros abriram suas próprias escolas. Foram muitas produções de espetáculos, a maioria com criação absolutamente nossa, e outras com remontagens de obras-primas do repertório clássico mundial, destacando-se “O Quebra-Nozes”, em 2011 e 2019, e “La Fille Mal Gardée”, em 2015. Ambos, apresentados na íntegra.
Como fundadora e diretora do Ballet Eliana Cavalcanti antecipo minhas desculpas, pois resolvi pôr um fim a uma história que nos enche de orgulho. Pretendia parar daqui a dois anos, quando estaríamos comemorando o seu jubileu de ouro, porém os dois duros golpes que sofri (o desastre causado pela mineradora Braskem, quando perdemos a nossa sede própria e tivemos de nos estabelecer em outro bairro, e a pandemia do coronavírus) fizeram-me refletir sobre a necessidade urgente de diminuir o meu ritmo. Lembrei-me, mais uma vez, do “Poema dos Maduros” (ele fez parte do meu discurso de posse, na Academia Alagoana de Letras, em 2012), atribuído a Mario de Andrade, que fala no menino que tem uma bacia cheia de jabuticabas (ou cerejas, em algumas versões) e as come avidamente. Com o passar do tempo, ele percebe que lhe restam poucas jabuticabas na bacia e passa a comê-las sem pressa, saboreando-as. Estou nessa fase da vida. Meu passado é muito mais longo que o futuro que me aguarda.
Desde sempre trabalhei os três horários, ensaiando muitas vezes aos sábados e feriados. Aos domingos, sempre escrevia cartas-circulares para os pais e alunos, desenhava figurinos, selecionava músicas e escrevia libretos para os espetáculos. Contudo, não pensem que estou triste. Em vez de me lamentar, agradeço a Deus por ter tido o privilégio de dirigir uma escola que tanto honrou Alagoas. É preciso, no entanto, saber a hora de parar. Mas, como tenho receio de sentir saudades de uma sala de aula, estou procurando um pequeno espaço para adquirir, pois a minha meta é continuar dando aulas particulares, como, aliás, já o faço, e com turmas de Balé Adulto. Porém, tudo sem pretensões de montar espetáculos, de ter uma empresa. Ademais, quero dar minicursos para turmas de alunos e de professores, além de pesquisar e escrever sobre o balé.
Sempre em busca de conhecimentos, fiz o meu último curso um pouco antes de a pandemia se alastrar pelos quatro cantos do mundo. Quanto mais estudo, mais percebo que sei muito pouco. Sou uma eterna caçadora de preciosidades. E assim pretendo continuar os meus dias. A minha paixão pelo balé permanece e quero mantê-la como uma chama acesa dentro de mim.
Sem mais, desde já agradeço a todos os alunos, ex-alunos, pais de alunos, professores da escola, professores e coreógrafos convidados que nos presentearam com suas presenças ao longo desses anos, bem como aos funcionários e ao público tão cativo que esteve sempre nos prestigiando.
Em tempo, informo que encerraremos nossas atividades em novembro.
Maceió, 6 de agosto de 2021
Artistas fazem intervenção cultural em forma de protesto no bairro do Pinheiro
Artistas pintam frase ‘Maceió afunda em lágrimas!’ em rua do bairro do Pinheiro
Fonte: Acesse Aqui o Link da Matéria Original