Depoimento: chip implantado na mão não serve para nada – 31/01/2023 – Mercado
No fim de 2017, resolvi implantar um biochip na minha mão esquerda. O processo de me aproximar de um ciborgue veio cheio de ideias para aplicações, mas, no fim das contas, a intervenção biohacker não teve tanto uso assim.
O tal chip é um pequeno equipamento eletrônico, pouco maior que um grão de arroz cozido, envolto num vidro estéril e resistente o suficiente para aguentar marteladas (eu testei acidentalmente). Usando ondas de rádio, se comunica outros dispositivos num processo que também energiza o apetrecho, dispensando uma bateria.
Ele é inserido sob a pele com uma seringa própria para a aplicação de microchips, como as usadas em animais, que possui uma agulha grossa. Dói como uma ferroada, principalmente nas horas após o procedimento.
O meu foi colocado no bolsão entre o polegar e o indicador —uma posição estratégica, comumente usada para esse implante, por praticidade ao encostar nas coisas e por oferecer menor risco. Os profissionais recomendados para a aplicação são médicos e body piercers indicados pela própria fabricante, a Dangerous Things (“coisas perigosas”, em inglês).
Apesar desse nome, não oferece um risco iminente a minha saúde. Após a instalação, procurei o Dr. Teng Hsiang Wei, especialista em cirurgia da mão do Hospital Sírio-Libanês, que avaliou a esquisitice. Tudo em ordem.
O médico ainda deu uma sugestão de uso que pode ser interessante para o futuro: incluir ali informações de saúde. Em uma eventual emergência, socorristas teriam acesso a informações essenciais –como alergias e tipo sanguíneo– mesmo com o paciente desacordado. Para isso, no entanto, seria necessária uma adoção maior de tecnologia do tipo, para que se soubesse que esses dados estariam ali.
O chip não é metálico, então não é problema na segurança de aeroportos nem para ressonâncias magnéticas. Também não possui nada que permita rastrear localização, tipo um GPS.
E o que, afinal, esse biochip faz? A resposta curta é: para mim, nada.
Existem versões diferentes, que variam nas funcionalidades e nas frequências de rádio em que operam. Podem ser mais flexíveis (para instalar em outras partes do corpo) e incluir luz de led. Na prateleira dos implantes biohackers, há até ímãs para se instalar nas pontas dos dedos, permitindo sentir campos magnéticos e se grudar a objetos metálicos.
O modelo que possuo é chamado xNT. Ele se comunica na frequência NFC (sigla em inglês para “comunicação por campo de proximidade”), a mesma usada em celulares e em máquinas de pagamento naquela função de aproximação. É também encontrada em algumas fechaduras inteligentes.
Com o smartphone, posso armazenar uma quantia mínima de informações no chip, equivalente a cerca de meia página de texto. Com isso, é possível configurar comandos que um celular executa ao interagir com o implante: abre um vídeo específico no YouTube, acessa uma carteira de bitcoin, busca um endereço no mapa, etc.
Normalmente, deixo meus contatos por ali. Ou seja, se alguém encosta o telefone na minha mão, consegue me adicionar automaticamente à agenda.
Na prática, no entanto, o processo tem vários furos e cara de experimental. Essa história de passar meus contatos para alguém, por exemplo, funcionou pouquíssimas vezes.
Primeiro, porque não dá certo com todos os smartphones —com iPhone só funciona se a pessoa já tiver um app específico instalado. Segundo, porque muitas pessoas não fazem ideia do que seja NFC, e deixam o recurso desabilitado no telefone. Além disso, o chip fica escondido sob minha pele, que causa interferência. As capinhas de celular pioram a situação e, com isso, nem sempre é possível conectar. Mais comum é ficar que nem bobo tentando mostrar esse brinquedo tecnológico.
No caso de fechaduras e outros equipamentos NFC, aparece a dificuldade de encontrar no Brasil os aparelhos são compatíveis com o chip. Quando é possível, o preço é salgado. Há coisas mais baratas que poderiam funcionar, tipo um leitor usado para desbloquear o computador, mas prefiro usar a digital para isso.
Os pagamentos simplesmente não funcionam. Para essa função, o equipamento precisaria ser homologado pelas emissoras de cartão de crédito. As máquinas de cartão até detectam o chip, mas depois apresentam um erro. Há outras opções de biochip específicas para esse fim.
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